Análise de dados do grupo Geo-Yanomami mostra que, além de garimpo, território também tem registro de desmatamento. Problema é motivado por avanço do agronegócio.

O avanço da fronteira agrícola no leste da Terra Indígena Yanomami (TIY) e o crescimento nos alertas de desmatamento: Eliminação total da vegetação nativa numa determinada área seguida, em geral, pela ocupação com outra cobertura ou uso da terra. no seu entorno aumentaram o risco imediato à saúde das populações locais, segundo mostrou um levantamento inédito (leia mais abaixo). O interesse do agronegócio no território não é recente, mas ele tem se intensificado nos últimos anos, apesar das diversas denúncias feitas por organizações indígenas.

Pontos de desmatamento detectados pelo Deter, do Inpe, ano a ano. Cores mais fortes representam o ano com maior incidência de desmatamento em regiões do território. Análise: Christovam Barcellos/ GT Geo-Yanomami. Visualização dos dados: Carolina Passos/InfoAmazonia.

Segundo o líder Yanomami, Davi Kopenawa, as fazendas de gado que invadem o leste da terra indígena já são denunciadas pela Hutukara Associação Yanomami há quase 10 anos. No entanto, muitos dos invasores permanecem na região e, em alguns casos, novos alertas de desmatamento indicam que suas áreas de pastagem estão crescendo. 

“Nós denunciamos muitas vezes as fazendas que destroem a nossa terra, mas as autoridades não escutam”, declara Kopenawa, presidente da Hutukara, principal entidade indígena da região, criada em 2004 para defender a integridade física dos moradores da TIY e de todos seus recursos naturais.

Nós denunciamos muitas vezes as fazendas que destroem a nossa terra, mas as autoridades não escutam.

Davi Kopenawa

Ainda que o garimpo seja a principal ameaça ao território, o avanço do agronegócio também põe em risco a integridade da maior terra indígena: Territórios da União reconhecidos e delimitados pelo poder público federal para a manutenção do modo de vida e da cultura indígenas em todo o país. no país, com cerca de 100 mil km² distribuídos entre Amazonas e Roraima. A região ganhou destaque no início de 2023, quando o Ministério da Saúde decretou Emergência Sanitária de Importância Nacional na região, ganhando manchetes de jornais pelo mundo. 

Como investigamos o desmatamento na Terra Indígena Yanomami?



Utilizamos imagens de satélite e o sistema Deter para analisar mudanças na cobertura vegetal. Foram identificadas alterações durante o período de agosto de 2016 a novembro de 2022.

A reportagem buscou diversas fontes para entender as implicações das descobertas. Martha Fellows Dourado, do IPAM, analisou o desmatamento em Roraima em comparação com outras terras indígenas. Kleper Karipuna, da Apib, contextualizou a situação da TI Yanomami com outras demandas nacionais. Davi Kopenawa, da Hutukara Associação Yanomami, trouxe a perspectiva das lideranças indígenas locais. Ana Claudia Rorato Vitor e Christovam Barcellos, do GT Geo-Yanomami, explicaram como o mapeamento pode ajudar a coordenar ações humanitárias na região.

Confira mais detalhes nesta página.

Em parceria com o Laboratório InfoAmazonia de GeoJornalismo, o GT Geo-Yanomami verificou como a devastação florestal na TIY está avançando não apenas por conta do garimpo, mas também motivada pelo agronegócio. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lideraram o grupo de trabalho para consolidar dados e, futuramente, auxiliar as ações emergenciais em campo. O levantamento também envolveu cientistas da Universidade Veiga de Almeida (UVA), da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), entre outras instituições. 

Os autores mapearam como a degradação florestal: Eliminação parcial e gradual da vegetação florestal para a extração seletiva de madeira e de outros recursos naturais. Pode ocorrer também por fogo e alterações climáticas. e o desmatamento avançaram na TIY nos últimos anos. Ao contrário do desmatamento, que é a eliminação total da vegetação nativa numa determinada área, a degradação florestal é a eliminação parcial e gradual da vegetação em um processo que pode ocorrer, por exemplo, com a extração seletiva de madeira, fogo, efeito de borda e seca. 

No caso da Terra Indígena Yanomami, as alterações na cobertura vegetal foram medidas por meio de uma combinação de desmatamento, mineração e cicatriz de queimadas oriundos do Deter, sistema de levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia. A análise concluiu que mais de 729,45 km² tiveram alterações deste tipo entre 2017 e 2022. Os pesquisadores avaliaram todo o período disponível para análise do Deter, monitoramento que foi criado pouco antes, em 2016. Já o  Sistema TerraClass, responsável por qualificar o desflorestamento na Amazônia Legal brasileira, também indicou que entre 2017 e 2020, novas áreas na região leste da reserva viraram pastagem.