As queimadas são as grandes responsáveis pela poluição relacionada a doenças respiratórias e cardiovasculares. Estudo mostra que a floresta amazônica é capaz de absorver 26 mil toneladas de material particulado por ano e que terras indígenas contribuem com 27% deste total. Preservá-las evita 15 milhões de novos casos de doenças anualmente.
“Conservar territórios indígenas é uma questão de saúde pública,” diz Paula Prist, principal autora do estudo publicado na revista científica Communications Earth & Environment e pesquisadora da Ecohealth Alliance, ONG que trabalha com preservação do meio ambiente e prevenção de pandemias. Baseado na análise de dados da Amazônia Legal: É uma região que ocupa quase metade do território brasileiro, abrange 9 estados e tem área superior ao do bioma amazônico. entre 2010 e 2019, o artigo mostra que a floresta e as terras indígenas: Territórios da União reconhecidos e delimitados pelo poder público federal para a manutenção do modo de vida e da cultura indígenas em todo o país. (TIs) absorvem poluentes oriundos das queimadas e protegem a saúde da população, gerando economia para o sistema público de U$S 2 bilhões.
Durante o período analisado, a floresta conseguiu absorver 26 mil toneladas por ano do principal poluente relacionado a doenças respiratórias, o material particulado. As TIs foram responsáveis pela absorção de 27% deste total, apesar de ocuparem apenas 22% do território da Amazônia.
A floresta conseguiu absorver 26 mil toneladas por ano de material particulado. As terras indígenas foram responsáveis pela absorção de 27% desse total.
Segundo Prist, esse percentual de absorção mais elevado se dá provavelmente por causa do serviço que os povos indígenas prestam ao manter a floresta em pé. Estudo publicado em março de 2022 já mostrava que, no período de 2005 a 2012, a taxa média de perda de vegetação nativa: Toda a flora que naturalmente ocupa os diferentes biomas do país conforme seus tipos de solo, clima, biodiversidade e disponibilidade de água. nos territórios indígenas da Amazônia era 17 vezes menor do que em áreas não protegidas. Já um levantamento realizado em abril de 2022 pela rede MapBiomas mostrou também que, nos últimos 30 anos, as TIs em todo o Brasil perderam 1% de sua vegetação nativa, enquanto as áreas privadas perderam 20,6%.
Ao proteger a floresta, elas reduzem emissões de carbono e ajudam na absorção de poluentes, contribuindo para evitar doenças relacionadas a esses problemas (leia mais abaixo quais são as doenças listadas). “Mesmo que estes territórios indígenas estejam distantes de onde os incêndios ocorrem – muitas vezes no Arco do Desmatamento -, eles ainda assim conseguem fornecer serviços e proteger as populações rurais e urbanas que moram em toda a região”, destaca Prist.
Mesmo que estes territórios indígenas estejam distantes de onde os incêndios ocorrem – muitas vezes no Arco do Desmatamento -, eles ainda assim conseguem fornecer serviços e proteger as populações rurais e urbanas que moram em toda a região.
Paula Prist, pesquisadora da Ecohealth Alliance
Justamente a região do Arco do Desmatamento, onde a fronteira agrícola avança nas bordas sul e leste da floresta, é a que menos absorve os poluentes das queimadas na Amazônia. Também é nesta região que se encontram as TIs Kayabi, no Mato Grosso, Panará, no Pará, e Sete de Setembro, entre Rondônia e Mato Grosso – todas elas apresentaram as maiores incidências de doenças respiratórias dentre as TIs da Amazônia no período analisado.